Catedral de Notre Dame


Mínimos gárgulas de ferro
mantinham durante o dia
abertas as pálpebras
das janelas de madeira

Não há lembranças
de olhar através
para o azul celeste

Mas à noite as luzes da rua
transpassavam o esqueleto
das persianas para reescrever 
a treva absoluta

A criança 
ouvia o trânsito
até adormecer
no mesmo cômodo
onde a mulher
de alma lunar
compôs o poema
sobre som e silêncio
único elo com o mundo
quando as órbitas
e o sexo tornaram-se
meros adornos do corpo

O que contempla
seus olhos cegos
e sua vagina
como signos sagrados
carrega por longo tempo
a certeza do crime

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