JACK KEROUAC: Fundamentos da Prosa Espontânea.



ESQUEMA: O objeto é situado diante da mente ou na realidade, como se fosse um desenho (uma paisagem, uma xícara de chá ou um rosto ancião), ou é situada na memória onde se converte em um desenho a partir da recordação de uma imagem-objeto definida.

 PROCEDIMENTO: Como temporalidade de uma essência na pureza da palavra, a linguagem desenhada consiste em um imperturbável fluxo de ideias-palavras pessoais e secretas a partir da mente (como frases de um músico de jazz) sobre o sujeito da imagem.

 MÉTODO: Nenhum ponto e aparte separam as frases-estruturas já quebradas arbitrariamente por dois pontos falsos e tímidas vírgulas usualmente desnecessárias - salvo vigorosos hífens espaciais que separam o fôlego retórico (assim como o músico de jazz respira entre as frases que sopra) - "pausas métricas que são o essencial da nossa palavra" - "divisões dos sons que escutamos" - "o tempo como anotá-lo" (William Carlos Williams).

ALCANCE: Nenhuma seletividade da expressão somente acompanhar o livre desvio (associação) da mente até mares de pensamentos ilimitadamente soprados-sobre-os-assuntos, nadando no mar do próprio idioma sem outra disciplina salvo os ritmos da exalação retórica e o testemunho debatido, BANG! (o hífen espacial) - sopre tão fundo quanto quiser - escreva com toda a profundidade, pesque tão longe como te ocorrer, que tua satisfação vá primeiro, logo o leitor não poderá deixar de receber o choque telepático e a excitação-significado por meio das mesmas leis que funcionam em sua própria mente humana.

 INTERVALO DO PENSAMENTO: Nenhuma pausa para pensar a palavra apropriada salvo a acumulação infantil de palavras escatológicas básicas até obter satisfação, a qual desembocará em um grandioso ritmo anexado ao pensamento e em concordância com a Grande Lei do momento oportuno.

 MOMENTO OPORTUNO: Nada pode obstruir se flui no tempo e as leis do tempo shakespeareano que enfatiza a dramática necessidade de expressar-se agora mesmo com a própria maneira inalterável ou a língua sustentada para sempre - sem revisões (salvo erros racionais, tais como nomes ou inserções calculadas como atos de não escritura, somente inserção).

CENTRO DE INTERESSE: Não comece com uma ideia pré-concebida sobre o que dizer da imagem somente como uma joia central de interesse no sujeito da imagem no instante de escrever e escreva para adiante nadando no mar da linguagem para uma liberação periférica e o esgotamento - nada de segundos pensamentos salvo por razões poéticas ou pós-datas - Nunca volte a pensar para "melhorar" ou sustentar impressões pois os melhores escritos são sempre os mais dolorosos e pessoais arrancados pela força e lançados a partir do berço protetor da mente manancial de ti mesmo, Sopra! Agora! - Tua maneira é a única maneira - "boa" ou "má" - sempre honesta ("ridícula"), espontânea, "confessional" interessante, porque não foi "elaborada". O ofício é o ofício.

ESTRUTURA DE TRABALHO: As modernas estruturas bizarras (ciência-ficção, etc.) emanam da linguagem que morreu, temas "diferentes" dão a ilusão de uma vida "nova". Segue asperamente linhas em expansão, o momento mais que o tema, como a pedra em um rio, para que a mente flua sobre a joia do centro da necessidade (que tua mente gire, de imediato) até alcançar um ponto onde o que era um "começo" muito vago se converta em uma necessidade aguda de "consumação" e a linguagem se aproxime em uma corrida com os leitos do tempo - a corrida do trabalho, seguindo as leis da Forma Profunda, até a conclusão, as palavras finais, a última gota - a Noite é O final.

ESTADO MENTAL: Se for possível escreva "sem consciência" um semi-transe (como na anterior "escritura-transe" de Yeats) permitindo que o subconsciente com sua própria linguagem desinibida interessante necessária e portanto "moderna" admita o que a arte consciente censuraría, e escreva excitada e velozmente, sem cãimbras na escrita manual e datilografada, conforme (como do centro à margem) as leis do orgasmo, o "anulamento da consciência" segundo Wilhelm Reich. Vem de dentro, emerge relaxado e dito.



Traduzido a partir de Beat days/Días beats: visiones para jóvenes incorregibles, 2003, Miguel Grinberg.