I
Paul Celan
encena-se
punhal
corpo lâmina
na carne
do Sena.
Cena:
luzes de Paris
flutuam na superfície,
o poeta
submerso.
II
Alheio ao fluxo
olhar fixo
em outra margem
submerge
no ritmo
da imagem:
o sangue estanque
tinge o lábio
de azul claro.
Intervalos
regulares de silêncio
e ruído, o rio
soa nos ouvidos
do poeta:
corpo sonoro
palavra
no crânio
que naufraga.
III
Pão lançado aos peixes,
dissolve-se nas águas.
Paul Celan
encena-se
punhal
corpo lâmina
na carne
do Sena.
Cena:
luzes de Paris
flutuam na superfície,
o poeta
submerso.
II
Alheio ao fluxo
olhar fixo
em outra margem
submerge
no ritmo
da imagem:
o sangue estanque
tinge o lábio
de azul claro.
Intervalos
regulares de silêncio
e ruído, o rio
soa nos ouvidos
do poeta:
corpo sonoro
palavra
no crânio
que naufraga.
III
Pão lançado aos peixes,
dissolve-se nas águas.
Fragmentos de uma cidade:
disse-me o professor de artes,
havia apenas um piano de cauda
em toda a região;
camponeses de ascendência alemã
cultivavam erva mate e tabaco,
a exposição aos agrotóxicos
os induzia à uma tristeza abissal
e consequente suicídio;
protegíamos o pomar das geadas,
os velhos liam no frio
de um crepúsculo sem nuvens
o prenúncio;
num retângulo do quintal
a vizinha prepara a terra
para uma horta, sob
os casacos de lã eu soube
ela não tinha um seio;
manhãs de sol morno;
no quarto livros nunca lidos,
contemplava-os ali totens eretos
plenos de sangue sêmen febre
pau duro pulsando signos.
disse-me o professor de artes,
havia apenas um piano de cauda
em toda a região;
camponeses de ascendência alemã
cultivavam erva mate e tabaco,
a exposição aos agrotóxicos
os induzia à uma tristeza abissal
e consequente suicídio;
protegíamos o pomar das geadas,
os velhos liam no frio
de um crepúsculo sem nuvens
o prenúncio;
num retângulo do quintal
a vizinha prepara a terra
para uma horta, sob
os casacos de lã eu soube
ela não tinha um seio;
manhãs de sol morno;
no quarto livros nunca lidos,
contemplava-os ali totens eretos
plenos de sangue sêmen febre
pau duro pulsando signos.
https://www.youtube.com/watch?v=38la-kHqo1Y
"A poesia voltará a ser palavra dita" Octavio Paz em O arco e a lira.
Branco rosa lilás
Antes de calçar
Laetitia observa
- Não é fabricado na China.
Made in Vietnam
Fabrique au Vietnam
A mão de obra é baratíssima
Importação de matéria prima
Exportação do produto pronto
Tudo multiplica o lucro
da multinacional americana
E onde está a Poesia?
Na face no avesso
em toda superfície
da caixa, quero impresso
o poema Wietnam
de Szymborska
No corpo do tênis
com técnica stencil
a garotinha que
corre
nua
coberta de napalm
Antes de calçar
Laetitia observa
- Não é fabricado na China.
Made in Vietnam
Fabrique au Vietnam
A mão de obra é baratíssima
Importação de matéria prima
Exportação do produto pronto
Tudo multiplica o lucro
da multinacional americana
E onde está a Poesia?
Na face no avesso
em toda superfície
da caixa, quero impresso
o poema Wietnam
de Szymborska
No corpo do tênis
com técnica stencil
a garotinha que
corre
nua
coberta de napalm
Chamamo-nos pelos pseudônimos
chaga nada sacra & jardim em chamas
Sentou-se aos pés da cama:
un ángel con hocico de caballo
y huesito traspasado en el lábio
lee el livro de Lorca
un poeta en nueva york
a una calavera verde
Passado o transe, pergunta pelo banheiro
A calcinha trama-se aos tornozelos
Ouço o jorro de urina
Os dedos carregados de zelo
retiram o floco de papel higiênico
grudado no clitóris
Doloroso ter a consciência de que se ama
Sento-me aos pés da cama
Desconstruo em gomos uma tangerina
A observo folhear o heterônimo que tange
rebanhos, embora ambos preferimos Álvaro
de Campos
Doloroso ter a consciência de que se ama
chaga nada sacra & jardim em chamas
Sentou-se aos pés da cama:
un ángel con hocico de caballo
y huesito traspasado en el lábio
lee el livro de Lorca
un poeta en nueva york
a una calavera verde
Passado o transe, pergunta pelo banheiro
A calcinha trama-se aos tornozelos
Ouço o jorro de urina
Os dedos carregados de zelo
retiram o floco de papel higiênico
grudado no clitóris
Doloroso ter a consciência de que se ama
Sento-me aos pés da cama
Desconstruo em gomos uma tangerina
A observo folhear o heterônimo que tange
rebanhos, embora ambos preferimos Álvaro
de Campos
Doloroso ter a consciência de que se ama
Carregando migalhas de biscoito recheado
uma fila indiana de formigas vem outra vai.
Em meu curriculum vitae
escrevi nas características pessoais:
bom relacionamento interpessoal
e trabalho em grupo.
(queria escrever após um asterisco:
leio muitos livros, me traduzo
pela personagem gregor samsa)
Dezenas de formigas se acumulam
no copo vazio de coca,
mas levam o açúcar de forma ordenada
para sua toca.
Acrescento ao meu currículo
importante característica:
a palavra comunicativo.
(queria escrever após um asterisco:
leitor dos poetas-monges-eremitas
chineses da dinastia tang)
uma fila indiana de formigas vem outra vai.
Em meu curriculum vitae
escrevi nas características pessoais:
bom relacionamento interpessoal
e trabalho em grupo.
(queria escrever após um asterisco:
leio muitos livros, me traduzo
pela personagem gregor samsa)
Dezenas de formigas se acumulam
no copo vazio de coca,
mas levam o açúcar de forma ordenada
para sua toca.
Acrescento ao meu currículo
importante característica:
a palavra comunicativo.
(queria escrever após um asterisco:
leitor dos poetas-monges-eremitas
chineses da dinastia tang)
Uma metáfora para a morte:
em trinta de maio o sangue estanque.
Eu nascituro em primeiro de junho,
ou seja, não coabitamos o mundo.
Ouvi o nome Smetak
numa canção do Caetano.
Li o nome Smetak
estudando a tropicália.
Habitei a Bahia: o mar quebra,
o mar é ritmo, o mar é carne
líquida.
O nascimento é sonoro.
Crianças são sonoras.
O sexo é sonoro.
Em tudo o som bruto.
Corolas soam seus acordes
em agudos Van Gogh,
Iberê em graves.
O silêncio é tátil nas partituras.
Eu menino monossilábico,
no cérebro a sintaxe é célere,
como tivesse três cabeças
feito Cérbero.
Smetak sabes o mistério da música
atabaques invocam divindades,
o ritmo tange o êxtase.
Smetak não tenho talento
para instrumento algum
a sonoridade que me cabe
são as palavras.
em trinta de maio o sangue estanque.
Eu nascituro em primeiro de junho,
ou seja, não coabitamos o mundo.
Ouvi o nome Smetak
numa canção do Caetano.
Li o nome Smetak
estudando a tropicália.
Habitei a Bahia: o mar quebra,
o mar é ritmo, o mar é carne
líquida.
O nascimento é sonoro.
Crianças são sonoras.
O sexo é sonoro.
Em tudo o som bruto.
Corolas soam seus acordes
em agudos Van Gogh,
Iberê em graves.
O silêncio é tátil nas partituras.
Eu menino monossilábico,
no cérebro a sintaxe é célere,
como tivesse três cabeças
feito Cérbero.
Smetak sabes o mistério da música
atabaques invocam divindades,
o ritmo tange o êxtase.
Smetak não tenho talento
para instrumento algum
a sonoridade que me cabe
são as palavras.
Assinar:
Postagens (Atom)