Sinta o sutil
tremor do galho
ao amparar
o pouso
Menos suave
ossos arqueiam
sob o peso
de tantos
pensamentos
Precipitam-se palavras
contra os olhos abertos
Ao pedir alguma trégua
o pássaro se aproxima
bebe na poça de chuva
leio a luz esmaecer
sobre páginas de poemas
mendigo esmola
qualquer moeda
pela praça
entardecer de domingo
pais não querem
ensinar aos filhos
a caridade
sal paradise
ofertaria torta de
maçã com sorvete
aos monges mendicantes
pensar a tristeza
insignificante
sob as estrelas
cada um
a seu tempo
percorrerá o
caminho estreito
sobre páginas de poemas
mendigo esmola
qualquer moeda
pela praça
entardecer de domingo
pais não querem
ensinar aos filhos
a caridade
sal paradise
ofertaria torta de
maçã com sorvete
aos monges mendicantes
pensar a tristeza
insignificante
sob as estrelas
cada um
a seu tempo
percorrerá o
caminho estreito
Roberto Bolaño e Mario Santiago.
afilado ganido golpeia
lembranças oferecem alívio
ecoam o pássaro ferreiro
martelando o verde silêncio
canto que a mãe desenleara
de outros sons inominados
som limpo
soa aceso
lâmina
recitando
o sol
interrogo se as lições
de um cão anônimo
seriam mais amenas
ao inserir no vocabulário
das crianças a palavra morte
cubro os ouvidos
para a analogia
com o pugilismo
das ondas contra
são punhaladas
o ritmo dos ganidos
lembranças oferecem alívio
ecoam o pássaro ferreiro
martelando o verde silêncio
canto que a mãe desenleara
de outros sons inominados
som limpo
soa aceso
lâmina
recitando
o sol
interrogo se as lições
de um cão anônimo
seriam mais amenas
ao inserir no vocabulário
das crianças a palavra morte
cubro os ouvidos
para a analogia
com o pugilismo
das ondas contra
são punhaladas
o ritmo dos ganidos
Mario Santiago Papasquiaro
Mario
Santiago Papasquiaro integrou o grupo literário Infrarrealista, ao lado de
Roberto Bolaño, que o considerava um genuino poeta, criador poético por
essência. Talvez pelos versos de Mario
Santiago serem sobretudo imagéticos, explorarem a possibilidade metafórica das
palavras, ao contrário da característica prosaica, narrativa dos versos de
Bolaño. Na maioria das entrevistas, ao ser interrogado sobre os
infrarrealistas, sobre a vida na Cidade do México, referia-se sempre a Mario
como um grande amigo. Com bom humor recordava as peculiaridades do poeta
mexicano, como o costume de tomar banho lendo livros, inclusive os que Bolaño o
emprestava, contou que ao flagrá-lo não ficara bravo, ajoelhou-se diante da
cena diante da cena inóspita, como se estivesse inebriado com a união limite
entre vida e poesia.
SAN
JUAN DE LA CRUZ DA 1 SUGESTÃO
A
NEAL CASSADY / NA FRONTEIRA
ENTRE
O MITO & O SONHO /
A
estrada declina rumo ao centro do seu próprio
incêndio centrífugo
Tijuana
desvanece flutuando sob a esfera do olho
Estilhaços
de cabaré & camas empurram os rastros
dos
duendes que enchem a ilusão deste instante
No
rádio: Jim Morrison engole esporas crescidas
na cicatriz do dilúvio
Esta
ponte mental vai ao voo
Estrelada
por fora e por dentro
Verde
cisco a selva
O
destino girando
Todo
ser & até nos postes cospem ovnis bordados
com
asas dos mais loucos vaga-lumes
É
noite / & na estrada / e voando
Os
Doors com os dentes tornam realidade
a voltagem
O
corpo da alma se banha na viagem
O
centro se curva
A
curva é selvagem
A
estrada é Deus mesmo
Cada
gânglio / cada parte
esquiva:
esfuma-se
O
passo avançando
A
mente arranca a euforia do eco.
O
assassino sonâmbulo cruzou os portais do pesadelo vazio
Nevava
na atordoada noite de abril
A
porcaria de greve havia atingido suas têmporas
Apertava
o herói seu abrigo escarlate sujo de esperma
A
excitação o beijava os pés
Os
sapatos / o olor a 1 destino pressentido em fulgurantes
viagens lisérgicas
Aaarrrggghhh!
A
leoa parisiense paria 1 cocozinho mais de lenda
e de
tédio
Porém
a sede / o irresistível imã do desejo de mais mel
aceso /
empurrava
nosso Lord Jim Catacumbas a arrancar
as barbas
a
correr perseguindo a boceta de 1 anjo que somente dele fugia
((De
Chirico observava como o olho da torre brotado sem regras))
O
assassino sonâmbulo sentou-se sobre a ponte distraída
do Metrô Passy
O
frio lhe abria as entranhas / o elo que unia a queda
de
1 sonho à torrente inestancável de outra viagem de haxixe
Essa
noite a Comuna era massacrada para todo sempre
O
bordel apodrecia com singular nonsense
O mais distante do rio!:
rabiscou afônico o que restava
de instinto
O
assassino / nu / ensaiava piruetas
arrastando
em pedaços as gotas manchadas
do seu
abrigo-bandeira
Sua
navalha era o céu que renunciava a ser céu
A
neve: a vítima
1
crucificação sem raízes povoava os vagões suspensos
na memória
o
vagabundo revoltoso que assaltava essa noite a história
perdida do Metrô Passy
Riscado
o p / o a / os dois ss / o y
Com
golpes de vidro a estação foi batizada como
Metrô Landrú
1
garrafada de tequila / 2 orações em turco
Meu palácio é de
vértebras / meu rio Sena de urinas:
Já
sem aspas o mundo
Em
santa paz a carniça.
CORRESPONDÊNCIA
INFRA
O
mar toca nossos corpos
para
sentir seu corpo
O
mesmo em Manzanillo no cais pedregoso
que
em Neviot / ilha de corais do deserto
Nós
devolvemos seu sorriso de sal
desenhando
nossos nomes & desejos
na
casca dos caranguejos
que
parecem buscar velhas pernas de pau devoradas
pela areia
O
mar ergue a cabeça
&
canta a nós / no idioma mais nu & afim
ao nosso tato
Port
Vendrés Ville ruge como atum encolerizado
em nossos
olhos
Bernard
pendura 1 de suas argolas verde fluorescentes na cabeleira
pontiaguda de 1 ouriço
Os
outros pescadores de Saint Joan / Fetiche
II
com
seus camarões são cândidos a seu modo
com
eles também é o mar que os filma fixamente
Ali
onde afrouxam sua nervosa calça
&
seus lábios não deixam de ulular
quando
vem até as anginas dos rochedos de Gibraltar
movendo-se
como dados ou peixes prateados
na
sombra de suas garrafas de rum.
SAN JUAN DE LA CRUZ LE DA 1 AVENTÓN
A NEAL CASSADY /EN LA FRONTERA
ENTRE EL MITO & EL SUEÑO/
La carretera se pandea rumbo al centro de su propio
incendio centrífugo
Tijuana se desvanece flotando bajo la mollera del ojo
Esquirlas de cabaret & colchón empujan la estela
de duendes que preña la ilusión de este instante
En el radio: Jim Morrison traga esporas crecidas
en la cicatriz del diluvio
Este puente mental va al volante
Estrellado el afuera & adentro
Verde mota la selva
El destino rodando
Todo ser & hasta en zancos escupe ovnis bordados
con alas de las más locas luciérnagas
Es de noche / & en carretera / & volando
Los Doors con los dientes hacen realidad su voltaje
El cuerpo del alma se baña en el viaje
El centro se curva
La curva es salvaje
La carretera es Dios mismo
Cada ganglio / cada trozo
resbala: se esfuma
El pie va braceando
La mente desyerba la euforia del eco.
El asesino sonámbulo cruzó los portales de la pesadilla vacía
Nevaba en la azorada noche de abril
La huelga de basura había llegado a sus sienes
Apretaba el héroe su abrigo escarlata chorreado de esperma
La excitación le besaba los pies
Las botas / el olor a 1 destino presentido en fulgurantes
viajes de chemo
¡Aaarrrggghhh!
La leona parisina paría 1 cagarruta más de leyenda
& de tedio
Pero la sed / el irresistible imán del deseo de más miel
encendida /
empujaba a nuestro Lord Jim Catacumbas a arrancarse
las barbas
a correr persiguiendo el coño de 1 ángel que sólo a él le huía
((De Chirico observaba como ojo de torre brotado sin reglas))
El asesino sonámbulo se sentó sobre el puente volado
del Metro Passy
El frío le abría las entrañas / la atarjea que unía la caída
de 1 sueño al torrente imparable de otro speed de hashish
Esa noche la Comuna era masacrada para todos los tiempos
El burdel se pudría con singular sinsentido
¡Lo más lejos del río!: garabateó afónico lo que quedaba
de instinto
El asesino / desnudo / ensayaba piruetas
arrastrando a tajadas los carambanos manchados
de su abrigo-bandera
Su navaja era el cielo que renunciaba a ser cielo
La nieve: la víctima
1 crucifixión sin raíces poblaba los vagones suspendidos
en la memoria
del clochard revoltoso que asaltaba esa noche la historia
perdida del Metro Passy
Tachadas la pe / la a / la doble ese / la y griega
Con golpes de vidrio la estación fué bautizada como
Metro Landrú
1 botellazo de Viuda / 2 oraciones en turco
Mi palacio es de vértebras / mi río Sena de orín:
Ya sin aspas el mundo
En santa paz la carroña.
A NEAL CASSADY /EN LA FRONTERA
ENTRE EL MITO & EL SUEÑO/
La carretera se pandea rumbo al centro de su propio
incendio centrífugo
Tijuana se desvanece flotando bajo la mollera del ojo
Esquirlas de cabaret & colchón empujan la estela
de duendes que preña la ilusión de este instante
En el radio: Jim Morrison traga esporas crecidas
en la cicatriz del diluvio
Este puente mental va al volante
Estrellado el afuera & adentro
Verde mota la selva
El destino rodando
Todo ser & hasta en zancos escupe ovnis bordados
con alas de las más locas luciérnagas
Es de noche / & en carretera / & volando
Los Doors con los dientes hacen realidad su voltaje
El cuerpo del alma se baña en el viaje
El centro se curva
La curva es salvaje
La carretera es Dios mismo
Cada ganglio / cada trozo
resbala: se esfuma
El pie va braceando
La mente desyerba la euforia del eco.
El asesino sonámbulo cruzó los portales de la pesadilla vacía
Nevaba en la azorada noche de abril
La huelga de basura había llegado a sus sienes
Apretaba el héroe su abrigo escarlata chorreado de esperma
La excitación le besaba los pies
Las botas / el olor a 1 destino presentido en fulgurantes
viajes de chemo
¡Aaarrrggghhh!
La leona parisina paría 1 cagarruta más de leyenda
& de tedio
Pero la sed / el irresistible imán del deseo de más miel
encendida /
empujaba a nuestro Lord Jim Catacumbas a arrancarse
las barbas
a correr persiguiendo el coño de 1 ángel que sólo a él le huía
((De Chirico observaba como ojo de torre brotado sin reglas))
El asesino sonámbulo se sentó sobre el puente volado
del Metro Passy
El frío le abría las entrañas / la atarjea que unía la caída
de 1 sueño al torrente imparable de otro speed de hashish
Esa noche la Comuna era masacrada para todos los tiempos
El burdel se pudría con singular sinsentido
¡Lo más lejos del río!: garabateó afónico lo que quedaba
de instinto
El asesino / desnudo / ensayaba piruetas
arrastrando a tajadas los carambanos manchados
de su abrigo-bandera
Su navaja era el cielo que renunciaba a ser cielo
La nieve: la víctima
1 crucifixión sin raíces poblaba los vagones suspendidos
en la memoria
del clochard revoltoso que asaltaba esa noche la historia
perdida del Metro Passy
Tachadas la pe / la a / la doble ese / la y griega
Con golpes de vidrio la estación fué bautizada como
Metro Landrú
1 botellazo de Viuda / 2 oraciones en turco
Mi palacio es de vértebras / mi río Sena de orín:
Ya sin aspas el mundo
En santa paz la carroña.
CORRESPONDENCIA
INFRA
El mar toca nuestros cuerpos
para sentir su cuerpo
Lo mismo en Manzanillo pedregoso
que en Neviot / isla de corales del desierto
Nosotros devolvemos su sonrisa de sal
dibujando nuestros nombres & apetencias
en el caparazón de los cangrejos
que parecen buscar viejas patas de palo devoradas
por la arena
El mar se para de cabeza
& nos canta / en el idioma más desnudo & afín
a nuestro tacto
Port Vendrés Ville ruge como atún encolerizado
en nuestros ojos
Bernard prende 1 de sus aretes verde flúor en la cabellera
alfilereada de 1 erizo
Los demás pescadores del Saint Joan / Fetiche II
desde sus camarones se sinceran a su modo
con éste también su mar que los filma fijamente
Ahí donde ellos se aflojan su nervioso pantalón
& sus labios no dejan de ulular
cuando ven hasta las anginas del Peñón de Gibraltar
moviéndose como dados o peces plateados
en la sombra de sus vasos de ron.
El mar toca nuestros cuerpos
para sentir su cuerpo
Lo mismo en Manzanillo pedregoso
que en Neviot / isla de corales del desierto
Nosotros devolvemos su sonrisa de sal
dibujando nuestros nombres & apetencias
en el caparazón de los cangrejos
que parecen buscar viejas patas de palo devoradas
por la arena
El mar se para de cabeza
& nos canta / en el idioma más desnudo & afín
a nuestro tacto
Port Vendrés Ville ruge como atún encolerizado
en nuestros ojos
Bernard prende 1 de sus aretes verde flúor en la cabellera
alfilereada de 1 erizo
Los demás pescadores del Saint Joan / Fetiche II
desde sus camarones se sinceran a su modo
con éste también su mar que los filma fijamente
Ahí donde ellos se aflojan su nervioso pantalón
& sus labios no dejan de ulular
cuando ven hasta las anginas del Peñón de Gibraltar
moviéndose como dados o peces plateados
en la sombra de sus vasos de ron.
Manual de Literaturas de Língua Portuguesa do Pós-doutor João Adalberto Campato Jr.
Em março será lançada essa importante obra do Pós-doutor João Adalberto Campato Jr., com o apoio do Observatório dos Países de Língua Oficial Portuguesa (OPLOP) da UFF- Universidade Federal Fluminense. E sinto sincera satisfação em ser citado nessas páginas. Agradeço a leitura e a atenção que há tempos o Profº Campato oferece aos poemas que publico. Abaixo, partilho o link e algumas palavras sobre a obra:
"Um manual de literatura de língua portuguesa será lançado no Brasil nas próximas semanas. De autoria do Pós-doutor João Adalberto Campato Jr., o livro "Manual de Literaturas de Língua Portuguesa: Portugal, Brasil, África Lusófona e Timor-Leste, deve ser lançado no final do próximo mês. O professor já é conhecido internacionalmente por outras produções acadêmicas e por tratar de temas e autores "não-canônicos". O manual chega para preencher uma lacuna na academia brasileira que ainda carece de um material de tamanha qualidade quanto o que está sendo produzido pelo autor. O OPLOP é um dos apoiadores culturais desta obra e acredita que "sem sombra de dúvidas é um material inédito, prático e inovador".
Hoje, 11/02/2016, a equipe da página Escamandro gentilmente publicou quatro traduções que realizei de poemas do Roberto Bolaño. Há ainda o texto introdutório, que resume biografia e justifica a escolha temática que relaciona os poemas traduzidos. Pela oportunidade agradeço ao Adriano Scandolara, Guilherme Gontijo Flores e Bernardo Lins Brandão, responsáveis pelas excelentes publicações e por manter ativo esse espaço dedicado à literatura.
Aqui o link para acessar os poemas:
https://escamandro.wordpress.com/2016/02/11/roberto-bolano-por-gustavo-petter/
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