Mario Santiago Papasquiaro



   Mario Santiago Papasquiaro integrou o grupo literário Infrarrealista, ao lado de Roberto Bolaño, que o considerava um genuino poeta, criador poético por essência. Talvez pelos  versos de Mario Santiago serem sobretudo imagéticos, explorarem a possibilidade metafórica das palavras, ao contrário da característica prosaica, narrativa dos versos de Bolaño. Na maioria das entrevistas, ao ser interrogado sobre os infrarrealistas, sobre a vida na Cidade do México, referia-se sempre a Mario como um grande amigo. Com bom humor recordava as peculiaridades do poeta mexicano, como o costume de tomar banho lendo livros, inclusive os que Bolaño o emprestava, contou que ao flagrá-lo não ficara bravo, ajoelhou-se diante da cena diante da cena inóspita, como se estivesse inebriado com a união limite entre vida e poesia.

SAN JUAN DE LA CRUZ DA 1 SUGESTÃO
A NEAL CASSADY / NA FRONTEIRA
ENTRE O MITO & O SONHO /

A estrada declina rumo ao centro do seu próprio
                            incêndio centrífugo
Tijuana desvanece flutuando sob a esfera do olho
Estilhaços de cabaré & camas empurram os rastros
dos duendes que enchem a ilusão deste instante
No rádio: Jim Morrison engole esporas crescidas
                        na cicatriz do dilúvio
Esta ponte mental vai ao voo
Estrelada por fora e por dentro
Verde cisco a selva
O destino girando
Todo ser & até nos postes cospem ovnis bordados
com asas dos mais loucos vaga-lumes
É noite / & na estrada / e voando
Os Doors com os dentes tornam realidade a voltagem
O corpo da alma se banha na viagem
O centro se curva
A curva é selvagem
A estrada é Deus mesmo
Cada gânglio / cada parte
esquiva: esfuma-se
O passo avançando
A mente arranca a euforia do eco.

O assassino sonâmbulo cruzou os portais do pesadelo vazio
Nevava na atordoada noite de abril
A porcaria de greve havia atingido suas têmporas
Apertava o herói seu abrigo escarlate sujo de esperma
A excitação o beijava os pés
Os sapatos / o olor a 1 destino pressentido em fulgurantes
                      viagens lisérgicas
      Aaarrrggghhh!
A leoa parisiense paria 1 cocozinho mais de lenda
                                           e de tédio
Porém a sede / o irresistível imã do desejo de mais mel
                                             aceso /
empurrava nosso Lord Jim Catacumbas a arrancar
                                             as barbas
a correr perseguindo a boceta de 1 anjo que somente dele fugia
((De Chirico observava como o olho da torre brotado sem regras))
O assassino sonâmbulo sentou-se sobre a ponte distraída
                                                            do Metrô Passy
O frio lhe abria as entranhas / o elo que unia a queda
de 1 sonho à torrente inestancável de outra viagem de haxixe
Essa noite a Comuna era massacrada para todo sempre
O bordel apodrecia com singular nonsense
O mais distante do rio!: rabiscou afônico o que restava
                                                      de instinto
O assassino / nu / ensaiava piruetas
arrastando em pedaços as gotas manchadas
                            do seu abrigo-bandeira
Sua navalha era o céu que renunciava a ser céu
A neve: a vítima
1 crucificação sem raízes povoava os vagões suspensos
                                               na memória
o vagabundo revoltoso que assaltava essa noite a história
                                              perdida do Metrô Passy
Riscado o p / o a / os dois ss / o y
Com golpes de vidro a estação foi batizada como
                                  Metrô Landrú
1 garrafada de tequila / 2 orações em turco
Meu palácio é de vértebras / meu rio Sena de urinas:
Já sem aspas o mundo
Em santa paz a carniça.



CORRESPONDÊNCIA INFRA

O mar toca nossos corpos
para sentir seu corpo
O mesmo em Manzanillo no cais pedregoso
que em Neviot / ilha de corais do deserto
Nós devolvemos seu sorriso de sal
desenhando nossos nomes & desejos
na casca dos caranguejos
que parecem buscar velhas pernas de pau devoradas
                                             pela areia
O mar ergue a cabeça
& canta a nós / no idioma mais nu & afim
                              ao nosso tato
Port Vendrés Ville ruge como atum encolerizado
                                 em nossos olhos
Bernard pendura 1 de suas argolas verde fluorescentes na cabeleira
                                            pontiaguda de 1 ouriço
Os outros pescadores de Saint Joan / Fetiche II
com seus camarões são cândidos a seu modo
com eles também é o mar que os filma fixamente
Ali onde afrouxam sua nervosa calça
& seus lábios não deixam de ulular
quando vem até as anginas dos rochedos de Gibraltar
movendo-se como dados ou peixes prateados
na sombra de suas garrafas de rum.




SAN JUAN DE LA CRUZ LE DA 1 AVENTÓN
A NEAL CASSADY /EN LA FRONTERA
ENTRE EL MITO & EL SUEÑO/

La carretera se pandea rumbo al centro de su propio
                                         incendio centrífugo
Tijuana se desvanece flotando bajo la mollera del ojo
Esquirlas de cabaret & colchón empujan la estela
 de duendes que preña la ilusión de este instante
En el radio: Jim Morrison traga esporas crecidas
                               en la cicatriz del diluvio
Este puente mental va al volante
Estrellado el afuera & adentro
Verde mota la selva
El destino rodando
Todo ser & hasta en zancos escupe ovnis bordados
con alas de las más locas luciérnagas
Es de noche / & en carretera / & volando
Los Doors con los dientes hacen realidad su voltaje
El cuerpo del alma se baña en el viaje
El centro se curva
La curva es salvaje
La carretera es Dios mismo
Cada ganglio / cada trozo
resbala: se esfuma
El pie va braceando
La mente desyerba la euforia del eco.

El asesino sonámbulo cruzó los portales de la pesadilla vacía
Nevaba en la azorada noche de abril
La huelga de basura había llegado a sus sienes
Apretaba el héroe su abrigo escarlata chorreado de esperma
La excitación le besaba los pies
Las botas / el olor a 1 destino presentido en fulgurantes
                                                   viajes de chemo
                               ¡Aaarrrggghhh!
La leona parisina paría 1 cagarruta más de leyenda
                                                 & de tedio
Pero la sed / el irresistible imán del deseo de más miel
                                                     encendida /
empujaba a nuestro Lord Jim Catacumbas a arrancarse
                                                      las barbas
a correr persiguiendo el coño de 1 ángel que sólo a él le huía
((De Chirico observaba como ojo de torre brotado sin reglas))
El asesino sonámbulo se sentó sobre el puente volado
                                             del Metro Passy
El frío le abría las entrañas / la atarjea que unía la caída
de 1 sueño al torrente imparable de otro speed de hashish
Esa noche la Comuna era masacrada para todos los tiempos
El burdel se pudría con singular sinsentido
¡Lo más lejos del río!: garabateó afónico lo que quedaba
                                                          de instinto
El asesino / desnudo / ensayaba piruetas
arrastrando a tajadas los carambanos manchados
                                 de su abrigo-bandera
Su navaja era el cielo que renunciaba a ser cielo
La nieve: la víctima
1 crucifixión sin raíces poblaba los vagones suspendidos
                                                    en la memoria
del clochard revoltoso que asaltaba esa noche la historia
                                        perdida del Metro Passy
Tachadas la pe / la a / la doble ese / la y griega
Con golpes de vidrio la estación fué bautizada como
                                             Metro Landrú
1 botellazo de Viuda / 2 oraciones en turco
Mi palacio es de vértebras / mi río Sena de orín:
Ya sin aspas el mundo
En santa paz la carroña.



CORRESPONDENCIA INFRA

El mar toca nuestros cuerpos
para sentir su cuerpo
Lo mismo en Manzanillo pedregoso
que en Neviot / isla de corales del desierto
Nosotros devolvemos su sonrisa de sal
dibujando nuestros nombres & apetencias
en el caparazón de los cangrejos
que parecen buscar viejas patas de palo devoradas
                                               por la arena
El mar se para de cabeza
& nos canta / en el idioma más desnudo & afín
                                       a nuestro tacto
Port Vendrés Ville ruge como atún encolerizado
                                       en nuestros ojos
Bernard prende 1 de sus aretes verde flúor en la cabellera
                                             alfilereada de 1 erizo
Los demás pescadores del Saint Joan / Fetiche II
desde sus camarones se sinceran a su modo
con éste también su mar que los filma fijamente
Ahí donde ellos se aflojan su nervioso pantalón
& sus labios no dejan de ulular
cuando ven hasta las anginas del Peñón de Gibraltar
moviéndose como dados o peces plateados
en la sombra de sus vasos de ron.






                                                                                                         

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