O Circo, Leopoldo María Panero.

O Circo

Dois atletas saltam de um lado para o outro da minha alma
lançando gritos e conversas fiadas sobre a vida:
não sei seus nomes. Em minha alma vazia escuto sempre
o balançar dos trapézios. Dois
atletas saltam de um lado para o outro da minha alma
contentes de que esteja tão vazia.
                                                     E ouço
ouço no espaço sem sons
uma e outra vez o rumor dos trapézios
uma e outra vez.
Uma mulher sem rosto canta em pé sobre a minha alma,
uma mulher sem rosto sobre minha alma caída,
minha alma, minha alma: repito essa palavra
não sei se como um menino chamando sua mãe para a luz,
em confusos sons e com prantos, ou simplesmente
para mostrar que não há sentido.
Minha alma. Minha alma
és como a terra seca onde pisoteiam sem ver 
cavalos e carroças e pés, e seres
que não existem de cujos olhos
flui meu sangue hoje, ontem, amanhã. Seres
sem cabeça cantarão sobre minha tumba
uma canção incompreensível. E se
repartirão os ossos da minha alma.
Minha alma. Meu
irmão morto fuma um cigarro junto a mim.

Poema da obra Narciso en el acorde último de las flautas (1979).

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