mesmo longe vejo
sobre o chão negro
espalhadas as pétalas do ipê

sei: é uma espécie de incêndio
queima-me os pés a inquietação

aproximamo-nos 
de mãos dadas
pela rua quieta

penso: caralho, calaram-se os cães
e as casas dessa cidade distante
nunca terão abrigo 
antiaéreo embora 
não sejamos um povo
de todo pacífico

somos pai e filha 
os passantes
dessa rua vazia
ela diz: o ipê
só dá flor no outono 
e no inverno

nossos passos
inscrevem-se um
tom mais escuro
na pele nas pétalas

avançamos

com a poesia
aprende: 
o curto percurso
é suficiente




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