Noite em que tudo desaba.

A chuva soa metálica contra a janela do quarto. As gotas soam roucas sobre o telhado. Palavras duras ressoam na memória. 

Noite em que tudo desaba. 

Horas antes, durante a tarde, os únicos presságios foram: perceber o giro irregular do ventilador de teto; a falta de tesão ao folhear um livro, esperando o corpo de passos lentos percorrer o silêncio da biblioteca pública; pessoas próximas e ao mesmo tempo distantes, lendo debruçadas sobre as mesas, lembram a palavra arquipélago; os olhos que tornam-se pássaros fugidios ao evitar o voo sobre as flores fúnebres que os lábios rubros pronunciam.

Inevitável voltar para casa. Ouvir as luzes ruírem. Imergir na noite em que tudo desaba.


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