Anotações de um estrangeiro:
Os ponteiros extáticos
na estação rodoviária
sustentam o aceno
em eterna despedida
O trem cargueiro
impõem seu compasso
à manhã da metrópole
Penso em Jack Kerouac
e nos trilhos como cicatrizes
No pátio da universidade
duas horas contemplando
a dança das árvores
A alma compreende o vento
com os olhos fechados
Atmosfera oleosa da pastelaria
a solícita atendente oriental
traz um suco de laranja
Quis contar sobre a bela capa vermelha
da antologia de poesia chinesa que li
Ao crepúsculo os personagens do subsolo
exibem no banheiro público
as tatuagens opacas e o pau duro
Súbito percebo que hoje
não mirei o céu
uma única vez
Ponteiros fixos às cinco horas em ponto
de uma tarde esquecida
Lembram-me o pranto de García Lorca
Relógio imóvel da estação rodoviária
Serias ingênuo em insurgir-se contra o tempo
Traduzo tua recusa
como busca por serenidade
Estás tão tranquilo
sem os ruídos das engrenagens
roendo-te as vísceras
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