Poema do venezuelano Rafael Cadenas, obra Intemperie, 1977.



ARS POETICA

Que cada palavra leve o que diz.
Que seja como o tremor que a sustém.
Que se mantenha como um latido.

Não vou proferir adornada falsidade nem pôr tinta
duvidosa ou acrescentar brilho ao que é.
Isso obriga a ouvir-me. Estamos aqui para dizer
verdades.
Sejamos reais.
Quero exatidões aterradoras.
Tremo quando creio que me falsifico. Devo reconhecer
minhas palavras. Me possuem tanto quanto eu a elas.

Se não vejo bem, diga, tu que me conhece, minha mentira,
acuse a impostura, me esfregue na cara a fraude.
Te agradecerei, juro. Enlouqueço por ser correspondido.
Seja meus olhos, me espere na noite e me aviste, examine,
me sacuda.


ARS POETICA

Que cada palabra lleve lo que dice.
Que sea como el temblor que la sostiene.
Que se mantenga como un latido.

No he de proferir adornada falsedad ni poner tinta dudosa
ni añadir brillo a lo que es.
Esto me obliga a oírme. Pero estamos aquí para decir
verdad.
Seamos reales.
Quiero exactudes aterradoras.
Tiemblo cuando creo que me falsifico. Debo llevar en peso
mis palavras. Me poseen tanto como yo a ellas.

Si no veo bien, diime tú, tú que me conoces, mi mentira,
señálame la impostura, restriégame la estafa.
Te lo agradeceré, en serio. Enlouquezco por corresponderme.
Sé mi ojo, espérame en la noche y divísame, escrútame,
sacúdeme.



Tradução de Gustavo Petter.





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