destoam
o peso
das pálpebras
a leveza
das libélulas
destoam
o peso
da alma
oscila
soaria suave
em versos japoneses
viver a voragem
se analogias
à alternância
das estações
ao martelar
das marés
sobre a orla
traduzissem
como
o peso
da alma
oscila
Recebo com muita felicidade a data de lançamento da Antologia Poética 29 de Abril O Verso da Violência. Sinto muito orgulho de ter sido selecionado para participar com um poema. Eis as informações sobre a Antologia Poética:
poesia
adelaide do julinho + ademir demarchi + adriane garcia + albertina laufer + ale safra + alex dias + alvaro posselt + amanda vital + angel cabeza + antônio lazzuli + assis de mello + beatriz bajo + camillo josé + carla diacov + carlos alberto muzille + carlos eduardo bonfá + carvalho junior + cel bentin + claudio daniel + donny correia + ellen maria + fabiana motta + felipe magnus + fernanda fatureto + gabriel felipe jacomel + geraldo witeze jr. + greta benitez + gustavo petter + helvio campos + homero gomes + ikaRo maxX + isabela romeiro vannucchi + ivan justen santana + josé aloise bahia + josé antônio cavalcanti + jovino machado + jr. bellé + leonardo chioda + líria porto + lisa alves + lívio oliveira + lubi prates + luciana cañete + luiz roberto guedes + maíra ferreira + marcelo adifa + marcelo ariel + marcelo de angelis + marcelo sandmann + marcelo vieira ribeiro + marco aurélio de souza + mariza lourenço + micheliny verunschk + miriam adelman + norma de souza lopes + nuno rau + nydia bonetti + pablo morenno + priscila merizzio + ricardo aleixo + ricardo escudeiro + ricardo silvestrin + robisson albuquerque-sete + ronald augusto + rosane carneiro + samantha abreu + sérgio fantini + silvana guimarães + stefanni marion + tarso de melo + tere tavares + thiago dominoni + thiago ponce de moraes + vasco cavalcante + waldo motta + wender montenegro + william zeytounlian + yuria santamaria pismel + ziul serip
apresentação/antologia
daniel faria
apresentação/depoimentos
célia musilli
depoimentos
alice ruiz + amabilis de jesus + caetano zaganini filho + christine vianna + claudio de assis da cunha + francis de lima aguiar + francisco soares neto + ícaro moura + josé melquíades ursi + rafael kenji kuriyama + sérgio daguano + thiago dominoni
fotografia
brunno covello + lina faria
diagramação/projeto gráfico
bruno palma e silva
colaboração
lubi prates
organização
domenico a. coiro + mar becker + priscila merizzio + silvana guimarães
Os cágados sobre as rochas
as corolas ao redor do lago
estão cagando para a década
de convívio com o câncer
Descanse em paz
dizem todos ao cadáver
A criança no banheiro
diante do espelho
indaga os olhos secos
Não chorar no enterro
constitui um crime
Ninguém consolou
com a analogia da luta
contra a doença
ser uma Odisseia
Por que não houve regresso
ou não leram Homero?
Certamente leram
a literatura clássica
durante seus estudos
os da família que
abandonaram o
monastério por
uma vocação maior
o amor
de carne
e osso
as corolas ao redor do lago
estão cagando para a década
de convívio com o câncer
Descanse em paz
dizem todos ao cadáver
A criança no banheiro
diante do espelho
indaga os olhos secos
Não chorar no enterro
constitui um crime
Ninguém consolou
com a analogia da luta
contra a doença
ser uma Odisseia
Por que não houve regresso
ou não leram Homero?
Certamente leram
a literatura clássica
durante seus estudos
os da família que
abandonaram o
monastério por
uma vocação maior
o amor
de carne
e osso
a cena: acena
mão hasteada
o mais alto possível
farrapo desbotado
testemunha ventos
tempestades sol a pino
que a inquietaram
o aceno se sustenta
o tempo que pode
à superfície: esperança
dos afogados
com violência afaga
o ar até as forças
pousarem: pássaros
convocados pelo crepúsculo
carrega-se aceso
nos olhos o aceno
mão hasteada
o mais alto possível
farrapo desbotado
testemunha ventos
tempestades sol a pino
que a inquietaram
o aceno se sustenta
o tempo que pode
à superfície: esperança
dos afogados
com violência afaga
o ar até as forças
pousarem: pássaros
convocados pelo crepúsculo
carrega-se aceso
nos olhos o aceno
A iluminação ininterrupta do estacionamento, nega ao quarto a escuridão absoluta. Rápido o olhar habitua-se à penumbra, lê a silhueta dos objetos. A luz esgueira-se pelas fissuras da janela fechada, desenha formas no teto. Deitado de bruços, os olhos abertos para a estranha constelação.
Da memória emergem imagens impiedosas. Meu nome deve ser silenciado na garganta dos que me amam, embora no coração siga insone. Meu nome é indigno de ser dito durante as refeições. Eis as cicatrizes que a noite inscreve.
na mitologia grega
a amoreira
bebeu o sangue
dos amantes mortos
talvez as beterrabas
tenham sorvido
o dos poetas
ainda vivos
ou seja romântico
vê-lo aceso
sobre o silêncio
das raízes
sobre o sono
dos ossos
a musa virá jantar e trará vinho
o poeta corta os legumes para a salada
beterrabas deixam os dedos rubros
vermelha pelo sumo a pele
assemelha-se a um símbolo socialista
a amoreira
bebeu o sangue
dos amantes mortos
talvez as beterrabas
tenham sorvido
o dos poetas
ainda vivos
ou seja romântico
vê-lo aceso
sobre o silêncio
das raízes
sobre o sono
dos ossos
a musa virá jantar e trará vinho
o poeta corta os legumes para a salada
beterrabas deixam os dedos rubros
vermelha pelo sumo a pele
assemelha-se a um símbolo socialista
Pouso em ti dois pássaros feridos
Acolhe-os. Os olhos oferecem abrigo
Sustentamos o olhar
Um instante; Ínfimo; Intenso
Tempo suficiente para leres:
não será breve a convalescença das asas
Um instante; Ínfimo; Intenso
Tempo suficiente para a verde íris
verter a piedosa beleza: vela acesa
consumindo-se diante dos lábios
que silenciosos oram pela vida das asas
Um instante; Ínfimo; Intenso
A veloz queda das pálpebras
decapita-o com a destreza
samurai das mãos que empunham
a lâmina e concluem o seppuku
Van Gogh, Vaso de Lírios sobre um fundo amarelo
Flores adornam
o que há de incomum
nos olhos que leem
o lento declínio
imperceptível sob
o viço das pétalas?
Vaso com flores
o que há de incomum
na língua que o compreende
aceso sobre a superfície
lunar do mármore?
Poucas corolas
emersas do vaso
diferem dos afogados
pela serenidade
O vaso com as flores
marca o centro
intuitivo da mesa
Importa a beleza
não a exatidão
matemática do pouso
a louca de olhos claros
mostra à criança
o gato morto
a louca balançou a cabeça
de um lado a outro
encenando como o cão
faz para matar o gato
a louca de olhos claros
e pele pálida
descendente de poloneses
em casa a criança reencena
os gestos do cão matando gato
a cama da criança tem
bandeirinhas de países
coladas na cabeceira
entre elas a da união soviética
a criança sabe que a louca
é o cão sacudindo entre os caninos
o cadáver do gato
mostra à criança
o gato morto
a louca balançou a cabeça
de um lado a outro
encenando como o cão
faz para matar o gato
a louca de olhos claros
e pele pálida
descendente de poloneses
em casa a criança reencena
os gestos do cão matando gato
a cama da criança tem
bandeirinhas de países
coladas na cabeceira
entre elas a da união soviética
a criança sabe que a louca
é o cão sacudindo entre os caninos
o cadáver do gato
Imerso na manhã de inverno. Lavar louça sugere imagens frias. Por exemplo, imensas geleiras guardam águas antigas, inacessíveis aos lábios ressequidos, à garganta sedenta. Lembro alertarem à criança para agasalhar-se bem contra o frio cortante. Imerso na manhã de inverno. Agrada pensar as mãos apunhaladas pelo fluxo que sai da torneira. Afoito em lavar logo para tornar a ler. A pia pouco cheia: taças de vinho, duas, pratos grandes e de sobremesa, quatro, talheres, oito.
A poesia, águas turvas mas não impuras. Nela ouvistes o ritmo das marés; o rumor da urina densa pelo sêmen; serviram de espelho para a lua; conduziram navios; sepultaram afogados.
Imerso na manhã de inverno. Lida horas antes uma obra sobre a Idade Média. Acaso no futuro publique alguns poemas, o título do livro será Leprosário.
A poesia, águas turvas mas não impuras. Nela ouvistes o ritmo das marés; o rumor da urina densa pelo sêmen; serviram de espelho para a lua; conduziram navios; sepultaram afogados.
Imerso na manhã de inverno. Lida horas antes uma obra sobre a Idade Média. Acaso no futuro publique alguns poemas, o título do livro será Leprosário.
Roberto Bolaño
PARA EDNA LIEBERMAN
Disse o saltimbanco das Ramblas:
Esse é o Deserto.
Aqui onde as amantes judias
abandonam seus amantes.
Recordo que me amaste e odiaste
logo que encontrei-me sozinho no Deserto.
Disse o saltimbanco: este é o Deserto.
O lugar onde se fazem os poemas.
Meu país.
PARA EDNA LIEBERMAN
Dice el saltimbanqui de las Ramblas:
Este es el Desierto.
Es aquí donde las amantes judías
Dejan a sus amantes.
Y recuerdo que me amaste y odiaste
luego me encontré solo en el Desierto.
Dice el Saltimbanqui: éste es el Desierto.
El lugar donde se hacen los poemas.
Mi país.
Poema publicado na obra La Universidad Desconocida.
Link Para ler sobre Edna Lieberman: http://diario.latercera.com/2011/12/11/01/contenido/cultura-entretencion/30-93598-9-edna-lieberman-la-mujer-de-ojos-terribles-que-roberto-bolano-nunca-olvido.shtml
PARA EDNA LIEBERMAN
Disse o saltimbanco das Ramblas:
Esse é o Deserto.
Aqui onde as amantes judias
abandonam seus amantes.
Recordo que me amaste e odiaste
logo que encontrei-me sozinho no Deserto.
Disse o saltimbanco: este é o Deserto.
O lugar onde se fazem os poemas.
Meu país.
PARA EDNA LIEBERMAN
Dice el saltimbanqui de las Ramblas:
Este es el Desierto.
Es aquí donde las amantes judías
Dejan a sus amantes.
Y recuerdo que me amaste y odiaste
luego me encontré solo en el Desierto.
Dice el Saltimbanqui: éste es el Desierto.
El lugar donde se hacen los poemas.
Mi país.
Poema publicado na obra La Universidad Desconocida.
Link Para ler sobre Edna Lieberman: http://diario.latercera.com/2011/12/11/01/contenido/cultura-entretencion/30-93598-9-edna-lieberman-la-mujer-de-ojos-terribles-que-roberto-bolano-nunca-olvido.shtml
li em um ensaio
crias na ressurreição
não a religiosa
mas produto
do intelecto humano
graças às teorias
de einstein e tal
talvez por isso
não julgavas definitivo
dar-se um tiro na têmpora
ou sabia sê-lo, não sei
selando a marcha
dos pés exaustos
e desiludidos
passado o tempo
ruíram os ideais
quase todos
porém ressurges
quando leio os versos
e me fazes pensar
a relação
com a poesia
com o suicídio
não importa
se o poema soe
carta à maiakovski
ou sejam entrevistas
as impiedosas pétalas
que colhi do jardim
cultivado em silêncio
importam as palavras
somente as palavras:
serem sempre sementes
crias na ressurreição
não a religiosa
mas produto
do intelecto humano
graças às teorias
de einstein e tal
talvez por isso
não julgavas definitivo
dar-se um tiro na têmpora
ou sabia sê-lo, não sei
selando a marcha
dos pés exaustos
e desiludidos
passado o tempo
ruíram os ideais
quase todos
porém ressurges
quando leio os versos
e me fazes pensar
a relação
com a poesia
com o suicídio
não importa
se o poema soe
carta à maiakovski
ou sejam entrevistas
as impiedosas pétalas
que colhi do jardim
cultivado em silêncio
importam as palavras
somente as palavras:
serem sempre sementes
Mal aqueço a mim mesmo. Embora o inverno não seja severo onde habito e a lã pouco puída. Mas o gato permanece próximo, assemelhando-se a uma serpente enrodilhada. Mal aqueço a mim mesmo, não porque use velhos agasalhos ou não tenha religião.
Não me ilude a intensidade das chamas. Sei de sua brevidade.
Se meus olhos tivessem o negrume luzidio dos insetos, o gato cruelmente brincaria com eles até causar-me a cegueira. Isso de algum modo me redimiria. Talvez eu não seja tão mal, o gato adormece sereno sobre meu colo.
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