Estão ainda deitados na penumbra. A luz do estacionamento esgueira-se pela mínima brecha da janela, impedindo a escuridão absoluta. No quarto, legível a silhueta dos móveis, noite verdadeira, treva, intransponível aos olhos. Ainda deitados, sentindo a respiração arrefecendo. O peito estendendo-se até o limite pela necessidade de ar, e descendo lentamente. A pele coberta pelas gotículas de suor, não escorriam, eram corolas afloradas sobre os poros. O tempo flui imperceptível.
   Ele mantém o olhar no teto, vendo sem querer desvendar as sombras projetadas, não importa a que desenho assemelham-se, gosta de compreendê-las como formas se dissolvendo, a rigidez dos ângulos domesticadas. Ela sente o sêmen refluir dentro do corpo. O líquido morno percorrendo o caminho inverso, lento, sem a urgência com que jorrara o mais fundo que pôde. Ele sente seu pau ainda intumescido, se levantasse da cama, agora estaria ainda ereto. Ai, vou tomar um banho. Ela exclama antes de beijá-lo no rosto, que permanece até ouvir o som da água o despertar da imobilidade.
   Na última vez que trepamos, dormi sem fazer a oração diária, como se a vida não pesasse sobre os pensamentos.

  

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