displicente o indicador
conduz a xícara vazia
pendurada pela asa
fixo olhar do ciclope
solitário girassol adorna
a cerâmica barata
não comungo nenhuma
cerimônia do chá
não há formalidades
a serem subvertidas
o sol matinal
ainda não aqueceu
o vento e já li
dezenas de poemas
estranho prazer
equilibrar a fragilidade
pelas margens da
palavra queda
não tremem as mãos
confiam que renomearei
os estilhaços: jardim
de pétalas afiladas
Delicadeza semelhante
a das mãos que amparam
um filhote de pássaro
O azul sem nuvens
envolve o voo
silencioso do urubu
Baudelaire ao versar a carniça
libertou a poesia de uma quietude
Agora o poema não exige violência
pode contemplar o putrefato
Tampouco aceita
o olhar intacto
ante as formas
se dissolvendo
a das mãos que amparam
um filhote de pássaro
O azul sem nuvens
envolve o voo
silencioso do urubu
Baudelaire ao versar a carniça
libertou a poesia de uma quietude
Agora o poema não exige violência
pode contemplar o putrefato
Tampouco aceita
o olhar intacto
ante as formas
se dissolvendo
Novas traduções do poeta venezuelano Rafael Cadenas.
PRESENÇA
Rostos,
cores
das roupas,
tons
de pele. Tão imediato!
nos
olhos
cansados
de ser meus.
***
Deixe
que os olhos
se
recuperem de ti.
***
A
única doutrina dos olhos
é
ver.
***
O
que ensinou a leitura aos olhos
apagou
o paraíso.
***
O
dono tem medo.
Os
olhos somente a realidade.
***
Que
pretensão: dar lições aos olhos,
mestres.
***
Se
outro mundo nos é dado
deve
ser este
desde
uns olhos
que
a diafaneidade há subjugado,
Plasmação
ilegível,
herança
escondida,
domínio
hierático.
***
Os
olhos não tem medo
nem
são valentes.
***
Tenho
olhos,
não
pontos de vista.
***
Que
faço
eu
atrás dos olhos?
ABDICAÇÃO
Emudeço
em
meio ao real,
e
o real diz
com
sua linguagem
o
que eu guardo.
Necessita
palavras
um
rosto?
A
flor
quer
sons?
Pede
vocábulos
o
cão, a pedra, o fogo?
Não
se expressam
somente
por estar?
Imensas
bocas
nos
ensurdecem
sem
serem ouvidas.
Calo.
Não vou mais além de meus olhos.
Contido
neste entorno.
PRESENCIA
Rostros,
colores de los trajes,
tonos de piel !tan inmediatos!
em los ojos
cansados de ser míos.
***
Deja que los ojos
se recuperen de ti.
***
La única doctrina de
los ojos
es ver.
***
El que enseño a leer a
los ojos
borró el paraíso.
***
El dueño tiene miedo.
Los ojos sólo tienen
realidad.
***
Qué pretensión: darles
lecciones a los ojos,
maestros.
***
Si outro mundo nos es
dado
debe ser éste
desde unos ojos
que la diafanidad há subyugado,
Plasmación ilegible,
herencia escondida,
dominio hierático.
***
Los ojos no tienen
miedo
ni son valientes.
***
Tengo ojos,
no puntos de vista.
***
?Qué hago
yo detrás de los ojos?
***
ABDICACIÓN
Enmudezco
en medio de lo real,
y lo real dice
con su lenguaje
lo que yo guardo.
?Necesita palabras
un rostro?
?La flor
quiere sonidos?
?Pide vocablos
el perro, la piedra, el
fuego?
?No se expresan
con solo estar?
Inmensas bocas
nos ensordecen
sin ser oídas.
Callo. No voy más allá
de mis ojos.
Me consta este
alrededor.
Traduções
de poemas do livro Memorial (1977), a partir da Antologia (1991).
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