Mais uma traduçãozinha de poemas do grande Leopoldo María Panero.
Mutação de Bataille
Sonhei em tocar a tristeza viscosa do mundo
na desencantada borda de um pântano absurdo
sonhei uma água turva onde reencontraria
o caminho perdido de teu ânus profundo;
tenho sentido em minhas mãos um animal imundo
que na noite havia fugido de uma espantosa selva
selvagem como o vento, como o negro orifício
do teu corpo que me faz sonhar
tenho sonhado em minhas mãos um animal imundo
e soube que era o mal do qual morrerás
e o chamo rindo da dor do mundo.
Uma luz demente, uma luz que faz dano
encontra somente em mim o cadáver do teu riso
do riso que livra tua longa nudez
e o vento descobre nossa morte, semelhante
a esse orifício imundo que eu quero beijar: resplendor
imenso
então me iluminará
e tenho visto tua dor como uma caridade
irradiando na noite tua forma ampla e imensa
o grito da tumba que é tua infinitude
tenho visto tua dor
como uma caridade, como se alguém deixara suavemente
um olho na mão branca que o mendigo lhe estende.
Panero, Leopoldo María. Poesía completa (1970-2000). Ed.Visor Libros, 2006.
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