Flui reflui 
a linha
de formigas
entrando
e saindo
do pássaro
já desorbitado

No poema
sem pudor
nomeia-se
seiva
porque não há
palavra ou alimento
interdito

Ao sexo liquefeito
que embebe a língua
ou lança-se contra
o céu da boca
oferece a luminosa
palavra: sumo

Desenvolve-se assim:
o buraco aberto
com as próprias mãos
acolhe a imagem
lançada como semente
num átimo cresce
ramifica-se envolve
as vísceras sobrepõem-se
ao pulso asfixia todo
outro pensamento

Precisa ser escrito

Antes da semeadura:
o corpo não
detém o passo
somente vê
migalha de tempo
suficiente para
o pássaro morto
inscrever-se como
imagem

Após a colheita:
uma variação possível
exemplo de anti-milagre
o pássaro debate-se
como despertando
de um pesadelo
mesmo sem olhos
lança-se ao azul
As formigas incrédulas
tentam entender
a moral da fábula
A cigarra espectadora
fuma um cigarro oculta
no claro escuro das folhas
escarneia estridente:
agreguem ao vocabulário
a palavra regicídio



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