Outro poema de Leopoldo María Panero que compõem a obra Rosa Enferma, publicado pela editora espanhola Huerga y Fierro.

VII

Já que perguntas pelo futuro compreende
Que a vida é uma rosa queimada
Pelo azul do silêncio
Pelo gume multiuso no qual repousa o verso
Falando aos homens sobre a fenda
Da ferida da vida sem cura
Do mal incansável da vida
Em mim os homens choram
E grita um anjo pela noite
Boa tarde Sr. Leopoldo, a casa foi derrubada
E reina um anjo sobre o nada
E o nada pastoreia o ser
E estremece minha flor entre o nada
Meu nardo feito de terror e do medo dos quartos escuros
À violeta imunda que aguarda no amado sepulcro
E que reza somente ao nada com fervor para o vento
Que apagará meu ser
Quando chegar o dia
Em que brilhe as cinzas sobre o mundo
E caiam palavras sobre palavras
E um homem repita a vida é um animal imundo
Uma conspiração dos mortos
Uma assombração, um clássico da dor
Um cão ladrando sobre a ruína do Palácio de Buckingham
Que brilha contra o verso e contra a razão
E que cairá algum dia sobre a cabeça do homem
Que chorará algum dia por sua ilha perdida
Pela ilha suprema do poeta
Que é um continente e não uma ilha
Por isso não perguntes por quem dobram os sinos
Eles dobram por ti, disse Hemingway, citando John Donne
E falando aos anjos do revólver sem balas chamado poesia

VII

Ya que preguntas por el futuro comprende 
Que la vida es una rosa quemada
Por el azul del silencio
Por el filo multiusos en el que yace el verso
Hablando a los hombres de la raja
De la herida de la vida que no se cura
Del mal incansable de la vida
En mí los hombres lloran
Y grita un ángel por la noche
Buenas tardes Don Leopoldo, la casa ha sido derruida
Y reina un ángel sobre la nada
Y la nada pastorea el ser
Y tiembla mi flor entre la nada
Mi nardo hecho de terror y del miedo a los cuartos oscuros
A la violeta inmunda que aguarda en el amado sepulcro 
Y que reza sólo a la nada con fervor hacia el viento
Que borrará mi ser
Cuando llegue el día
En que brille la ceniza sobre el mundo
Y caigan las palabras sobre las palabras
Y un hombre repita la vida es un animal inmundo
Una conspiración de los muertos
Una estantigua, un clásico del dolor
Un perro ladrando sobre la ruina del Palacio de Buckingham
Que brilla contra el verso y contra la razón
Y que caerá algún día sobre la coronilla del hombre
Que llorará algún día por su isla perdida
Por la isla suprema del poeta
Que es un continente y no una isla
Por eso no preguntes por quién doblan las campanas
Ellas doblan por ti, Hemingway lo dijo, citando a John Donne
Y hablando a los ángeles del revolver sin balas al que se llama poesía

Link para matérias sobre Leopoldo María Panero e ode li o poema que traduzi acima: http://www.elcultural.es/version_papel/LETRAS/34284/Los_Panero_Fin_de_trayecto

Poema do livro póstumo de Leopoldo María Panero: Rosa Enferma, lançado neste mês de maio pela Huerga Fierro Editores.

III

Quando a lua acende-se no verso
Choram os ladrões e uma armadilha cai ao solo
Compondo um ruído como de cristal
Que vã é a queda, digo ao verso
Que vão é o Cristal da Boêmia mastigado na boca
Que vão é o cavalo hípico que cavalga sobre as tumbas
Rezando ao nada
Sartre disse e o li no cárcere das aulas de matemática
"O nada corrói o ser como um verme"
Então soube pela boca de minha mãe mal batizada Felicidade
Que o homem tornará a reinar sobre o nada
E o nada revelará aos homens sua mão
Que têm o rosto pálido da loucura
E o tremor do verso
E o tremor do sexo pequenino das fadas que ainda não sangram


III

Cuando la luna se enciende en el verso
Lloran los ladrones y una red cae al suelo
Componiendo un ruido como de cristal
Qué vana es la caída, digo al verso
Qué vano es el Cristal de Bohemia masticado en la boca
Qué vano el caballo hípico que cabalga sobre las tumbas
Rezándole a la nada
Sartre lo dijo y yo lo leí en la cárcel en clase de matemáticas
“La nada corroe al ser como un gusano”
Y allí supe por boca de mi madre mallamada Felicidad
Que el hombre volverá a reinar sobre la nada
Y la nada enseñará a los hombres su mano
Que tiene el rostro pálido de la locura
Y el temblor del verso
Y el temblor del sexo diminuto de las hadas que aún no sangran


os
tons
do
outono
os
li
todos
em tua
íris
O arcanjo beija
um pássaro ferido.

Olhos brilham
a terrível ternura.
Artelhos tramam-se.
Acolhem.

Meu pequenino,
nossos sonhos 
de cera
são signos
para poetas 
malditos.

Meu pequenino,
somos metáfora
para a queda.


Rumo ao lume
mergulham insetos.
Seguem cegos
na busca
do que fulge.

Fogem da escuridão.
Ainda que artificial
o sol.

Seja o poema
metáfora
da sabedoria
ou de deus
ou de merda 
nenhuma

Há a palavra
matéria bruta
com sua música 
e imagens.

Há o homem
que observa
a lâmpada 
elétrica
na varanda.

E tem ideias:

haja ou não
embarcação 
à deriva
o farol gira,
escruta a treva.

O dia em que acaba a canção. (Leopoldo María Panero, Last River Together, 1980)

Quando o sentido, esse ancião que te falava
em horas de solidão, morre
                                         então
miras a mulher amada como a um velho,
e choras.
             Fica
órfão o poema, sem pai nem mãe,
                                                   e o odeias,
abominas o filho dependurado
como um aborto entre as pernas, balançando-se ali
como um fio que sustenta ou teia de aranha,
quando o sentido morre,
                                     como um menino
castrado por um cego,
ao amparo da noite feroz, da noite:
como a voz de um menino perdido uivando
                                                                 no vento
o dia em que acaba a canção, deixando
somente um pouco de tabaco na mão, 
                                                         e a cidade agora, as
cidades convertidas em vastas plantações de tabaco,
                                                                               e a mão
assombrada toca a boca sem lábios
o dia em que acaba a canção, e se perde
o homem que autonomeou-se alguém,
ao dobrar uma esquina, um entardecer sem música.
O dia em que acaba a canção a dor mesma
é somente um pouco de tabaco na mão,
                                                            e as palavras
são todas antigas, estrangeiras, e caem
da boca sem dentes como um líquido
parecido com a bílis,
                               o dia
em que morre o sentido, esse
assassino que ao crepúsculo falava e ao
insone sussurrava palavras e coisas,
                                                     o dia
em que acaba a canção miras
a mulher amada como a um velho, e
com a cabeça entre as pernas,
diante do mundo abortado, choras.




El día en que se acaba la canción

Cuando el sentido, ese anciano que te hablaba
en horas de soledad, se muere
                                              entonces
miras a la mujer amada como a un viejo,
y lloras.
            Y queda
huérfano el poema, sin padre ni madre,
                                                          y lo odias,
aborreces al hijo colgando
como un aborto entre las piernas, balanceándose allí
como hijo que cuelga o telaraña,
cuando el sentido muere,
                                     como un niño
castrado por un ciego,
al amparo da la noche feroz, de la noche:
como la voz de un niño perdido aullando en
                                                                  el viento
el día en que se acaba la canción, dejando
sólo un poco de tabaco en la mano,
                                                      y la ciudad ahora, las
ciudades convertidas en vastas plantaciones de tabaco,
                                                                            y la mano
asombrada toca la boca sin labios
el día en que se acaba la canción, y se pierde
el hombre que a sí mismo le daba el nombre de alguién,
al dar la vuelta a una esquina, un atardecer sin música.
El día en que se acaba la canción el dolor mismo
es sólo un poco de tabaco en la mano,
                                                          y las palabras
son todas de antaño, y de otro país, y caen
de la boca sin dientes como un líquido
parecido a la bilis,
                           el día
en que se muere el sentido, ese
asesino que al crepúsculo hablaba y al
insomnio susurraba palabras y cosas,
                                                       el día
en que se acaba la canción miras
a la mujer amada como a un viejo, y
con la cabeza entre las piernas,
frente al mundo abortado, lloras.

Poema de Leopoldo María Panero constante da obra Last River Together, 1980.