Quando caiu o objeto, fez-se silêncio. Até os pensamentos estancaram. Como névoa ergueu-se a quietude.

O espaço onde pairava: sala de estar. A fina cortina não detinha a luz da manhã. Brancura acesa, o gesso das paredes, a cerâmica do chão, até mesmo a ausência de palavras, era página em branco.

O objeto recém caído: uma estátua. Não fez-se em cacos. Fora decapitado pela queda. A cabeça oblíqua, manteve o olhar vivo, contemplando a paisagem óssea
ao fundo
esmaece
a luz

céu: página


galhos secos

desenham
esqueleto 
das árvores

linhas negras
leio: outono
pétalas plásticas
colorido vivo
espécie de ficção

tivesse no corpo
um olho de vidro
compreenderia
a natureza artificial

flores de plástico
perdem com o tempo
os tons acesos

esse esmaecer
nomeio: morte

(eis o ápice
da veracidade)